Testemunho de João Oliveira

O meu nome é João Oliveira e tenho 44 anos, feito, hoje, dia 11 de Outubro de 2022. Sou de Lisboa, local onde também resido. Sou licenciado em Direção e Gestão Hoteleira, com Pós-Graduação em Marketing Management, MBA Executivo em Gestão de Turismo e Negócios e um curso de especialização em Hotel Management de Cornell nos EUA, e por fim, uma especialização em Gestão de Marcas de Luxo no ISEG. Em termos de conhecimentos técnicos, para já acho que está bem, e recomendo vivamente a todos que façam o mesmo.

Trabalho neste momento e já há alguns anos, como Diretor Geral numa cadeia de Hotéis bastante conhecida. Tenho mulher e dois filhos lindos, uma menina de 13 e um menino de 15 anos. Sempre fui bastante saudável, e faço muito exercício físico, posso dizer que nunca fumei, apenas na adolescência, e bebo em situações de festa, ou convívio com os amigos e a família. Tenho, diria eu, uma vida perfeitamente normal, e sem grandes diferenças de qualquer um de nós. Sou para além disto um apaixonado por motas, e gosto imenso de andar de mota e da sensação das duas rodas, apesar de, por questões logísticas, não utilizar diariamente este meio de transporte. Vamos lá então começar a minha “história e aventura”.

 

Foi tudo muito simples e rápido, um dia levantei-me bem cedo e dirigi-me à casa de banho para tomar um bom banho matinal, e como estavam ainda todos a dormir hora, não liguei as luzes nem abri as janelas, ou seja, fui às escuras quase telecomandado, até à casa de banho. Cheguei e entrei para a banheira, como faço sempre. Ao começar a tomar banho, percebi que não estava a ver as coisas focadas, não eram nítidas. Pensei, como é normal, que estava com “ramelas”, esfreguei os olhos, mas continuei na mesma. Achei um pouco estranho e continuei a tomar banho, até que depois de ter terminado, a vista mantinha-se da mesma forma, e aí comecei a não perceber o que se estava passando. Associei rapidamente ao fato de praticar muito exercício físico, e poder ter tido um deslocamento da retina.

Não é de extrema importância, mas telefonei imediatamente ao meu Pai, que é médico e expliquei a situação, dado que não é eficaz via nada, ou melhor, via tudo desfocado. O meu Pai disse-me então que era melhor apanhar um táxi, e ir ter com ele às Urgências do Hospital dos Lusíadas, para o atendimento ser mais rápido, porque conhecia um bom médico oftalmologista. Fui então para lá, fiz o check in e aguardei que fosse chamado. O médico oftalmologista explicou-me que os meus olhos estavam bem...e disse-me que "isto deve ser um problema da cabeça", confesso que, quando ele disse isso, perdeu completamente e, por segundos, o chão". Da cabeça? Ele respondeu que os olhos estavam bem, que deviam ser um problema da cabeça, a falta de visão que sentimos e realizamos uma Ressonância Magnética e TAC à cabeça.

A partir deste momento foi “fácil” e rápido o seu diagnóstico. Tinha um cavernoma. O que era nem sabia bem, como se tratava também não, nem nunca tinha ouvido esta palavra. Aqui a parte boa é ter um Pai médico que, no imediato, me explicou com a sua calma do que se tratava, apesar da Neurologia não ser a sua especialidade, mas claro que sabia, mais ou menos, das coisas e do que se estava uma passagem. Fui então visto por um Neurologista, que descobriu, após a interpretação dos exames, que tinha tido um derrame cerebral. O sangue dentro do cérebro, estava em cima de uma veia, que fazia a ligação à vista, daí estar naquela altura a ver mal, e ter afetado a minha visão.

Parecia tudo muito simples, mas naqueles momentos, tudo é complicado, e de repente, ali, fica-se sem chão, e tudo desaparece à nossa volta. E porque eu? E porque eu sou? Enfim, questões e pensamentos normais, que surgem nestas alturas, e diriam que são próprios e normais do momento. Não tendo naquele momento nada a fazer, regressei a casa onde teria de ficar e esperar que o sangue “desaparecesse” e voltasse tudo à suposta normalidade, ou seja, como se tratasse de um nódoa negra, mas na cabeça, no seu interior. Tinha feito um derrame, e tinha que esperar que as coisas passassem. Não havia, e tanto quanto sei, não há nestes casos nada a fazer a não ser deixar o tempo correr. Assim fiz e fiquei esperando em casa a respeito, e esperar que o sangue saísse, e pudesse voltar a ver normalmente e ter a minha vida de volta. Claro que daqui para frente com condicionantes, mas em um princípio de vida “normal”. Depois vem, claro, a fase de explicar isto tudo em casa, aos amigos e no trabalho, enfim um mar de gente e tudo é tão novo... a única coisa boa é que, como tenho um Pai e um irmão médico, nesse as coisas já estavam mais encaminhadas, aliás, sempre apareceram aspectos mais eles do que eu do que se trata de tudo isto.

Outro aspecto bom foi que tudo isto aconteceu muito perto do início da pandemia, Maio de 2020, ou seja, fiz a recuperação em casa, e praticamente a seguir “o mundo parou”, tudo esteve fechado e parado, o que, para mim, facilitou muito e ajudou-me, claro, porque é sempre diferente, numa circunstância destas, a recuperação e o problema torna-se “mais fácil”. Passado então uns dois meses, voltei a ver tudo normal, e comecei de novo a descolocar-me e a ir ao Hotel, não ia trabalhar, porque estávamos fechados, mas ia lá, para sair um pouco de casa e também para ver como estava tudo , dado que o edifício e os quartos, e todas as áreas se mantêm como sempre, claro está.

A pandemia era muito uma experiência nova, ninguém sabia bem o que fazer e como reagir. Certo é que intensifiquei muito a leitura e pesquisa na Internet, sobre esta doença, e sobretudo o que envolve a mesma. Aderi a grupos, falei com pessoas, enfim fiz o que podia e não podia para saber tudo o que pudesse sobre a mesma. O tempo foi passando e fui regressando à minha vida, sempre com algum cuidado, e com as recomendações dos médicos, e ao regressar ao trabalho é que tive o segundo episódio da minha “aventura”. Estava no escritório, a trabalhar normalmente, ao computador, e de repente, comecei a sentir-me mal. Ainda hoje não consigo explicar bem o que senti, simplesmente não estava nada bem, o que em mim não era de tudo normal, e de imediato, fui ligar ao meu irmão que é médico também, falei um pouco com ele, e me aconselhou- Fui imediatamente para a CUF, onde estava um amigo neurocirurgião, e que poderia ajudar, caso fosse necessário. Assim fiz, apanhei novamente um táxi do Hotel, até à CUF, onde à chegada expliquei o que senti, e os sintomas que tinha, fiz novamente mais uns exames e logo cheguei à conclusão de que tinha outro derrame cerebral.

Nada havia a fazer, e à semelhança da situação anterior, desta feita, dado que o tempo e o intervalo entre estes dois episódios foram muito curtos, restavam algumas alternativas, para além da operação para retirar o cavernoma. As consequências de um derrame cerebral são sempre uma incógnita, e voltar a ter um novo derrame era um risco enorme, e poderia não ser tão casual como estes dois últimos. Assim foi e, depois de mais alguns meses, e no final do mês de Março de 2021 fui operado na CUF, onde retiraram o cavernoma. Correu tudo muito bem e tive, posso dizer, uma recuperação bastante normal. Fiz as coisas com calma e sem pressa. Tínhamos voltado novamente à Pandemia, e o mundo estava parado. As empresas não trabalhavam e não havia quase nada à nossa volta. Uma vez mais “a sorte” esteve do meu lado.

Parei e parou tudo, o que ajudou muito, e se tornou este momento mais fácil. Claro que a recuperação e o momento foram sempre delicados, mas tendo em conta a situação, admito que as coisas se tornaram mais simples, ou então, e aqui realmente acho que também é fundamental a forma como olhamos para tudo e enfrentamos estes momentos e esta situação .

Nunca me esqueci e não me pude esquecer, que tenho em casa dois meninos, e que me viam e veem diariamente, por isso, tinha de dar o melhor exemplo e superar a situação.

O tempo foi passando e regressei novamente à minha vida, ao meu trabalho e ao meu ginásio, e a fazer tudo o que fazia antigamente. No início, é claro,  com algumas dificuldades e limitações, mas com o passar dos dias e dos meses, sempre estando muito atento a mim, e como eu estava sentindo, fui deixando as coisas regressarem à sua normalidade.

Hoje posso dizer que tenho uma vida normal, claro que, se para ver mesmo à lupa, até posso ter mudado algumas coisas, mas foi para melhor de certeza e é assim que eu penso e vou pensar sempre.

Continuo com o apoio incondicional da minha família e dos meus amigos, que ajudam muito a passar esta fase, e tenho obrigatoriamente de agradecer ao meu Neurocirurgião, pelo trabalho realizado, e pela disponibilidade sempre total, é um GRANDE médico e um grande profissional.